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Maria Zulmira, Maria Augusta Anica, Elisabete Borralho |
O EXAME DA 4º CLASSE
Quando chegava o mês de Junho,
era a época dos exames. Os meninos e meninas que frequentavam a 4ª classe, tinham
que se deslocar à escola de Sousel, para fazerem o exame. Era uma coisa de grande
responsabilidade. Muitos poucos de nós tínhamos saído aqui da aldeia, por isso,
ir fazer exame a Sousel, era um acontecimento. Espaço e professores
desconhecidos, que nos impunham muito receio e respeito. Nem para os
professores nós tínhamos coragem de olhar!! A timidez era enorme.
Deslocávamo-nos como podíamos,
mas a maior parte ia no carro do Sr. Zé Delfino. Vestíamos os nossos melhores vestidos
de verão, sandálias de couro feitas nos
sapateiros da aldeia, e lá íamos nós, de manhã muito cedo. A prova escrita era
da parte da manhã, e da parte da tarde a prova oral. Uma sala enorme, com
carteiras afastadas umas das outras, onde nos sentávamos dois a dois. Era expressamente
proibido olhar para a prova do companheiro. As professoras cirandavam pela
sala, com um ar de grande solenidade e
de grande tensão.
Fazia sempre muito calor. As mãos
suadas, deixavam escorregar a caneta de tinta permanente ou a caneta de aparo,
que era molhada no tinteiro da carteira. As mãos escorriam água, então tínhamos
uma folha de papel branco , dobrada, que púnhamos debaixo da mão, e que ia
acompanhando a progressão da escrita. Alguns, mais nervosos, deixavam cair um
borrão de tinta em cima da prova, o que desfeava a mesma. Começavam a chorar,
por lhes ter acontecido aquilo que mais temiam. Tanto que a professora
recomendou que pusessem pouca tinta no aparo, para que não houvesse borrões!!!
Não me lembro onde almoçávamos,
mas lembro-me de no fim do dia comer um gelado no quiosque do jardim.
Depois das provas realizadas,
chegávamos a Casa Branca por volta das 4 ou 5 horas da tarde. O grupo dos
alunos e das alunas que fizeram exame começava a percorrer as ruas da aldeia e a a cantar esta cantiga
Bate palmas, bate
palmas
Amor aperta-me a mão
Tenho a sina de ser
tua (bis)
Mas por hora ainda
não (bis)
Bate palmas, bate
palmas (bis)
Amor aperta-me a mão (bis)
Viva a Srª D. Amélia
Que nos deu educação
Parávamos em casa de cada
companheira, onde na casa de entrada estava a mesa posta, com pratos de bolos e
licores muito coloridos, verde, azul, vermelho, que nós bebíamos em copinhos pequeninos. Depois continuávamos a volta à aldeia e
entrávamos em casa doutra colega, e assim, íamos a casa de todas as companheiras,
sempre cantando a cantiga “ Bate palmas...”
Para a maioria das minhas
colegas, o fazer exame da 4ª classe, implicava que começariam a ter uma vida
completamente diferente da que tiveram até ali. Ou iam trabalhar no campo, ou
tomar conta dos irmãos mais novos, ou ir “servir” para casa de pessoas que tinham
criadas. No universo de 40 a 50 alunos,
éramos 10 ou 12 ( entre rapazes e raparigas) que se preparavam ( com
explicações particulares ) para fazer o exame de admissão aos liceus afim de prosseguirem os estudos nas grandes cidades.