quinta-feira, 15 de maio de 2014

ONDE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL DE 1974?

Zé, Zuzu e Marta Maio 1974


Pois é!!!
Estava em casa!!!!  Tinha sido mãe há 3 meses da minha filha Marta. A Rita tinha 4 aninhos. Então eu estava  a tempo inteiro, em casa. 
Por volta das 9 horas, levantei-me para preparar o biberon da bébé e ouvi vozes na rua. Havia pessoas a falarem, da rua para as pessoas que estavam à janela. Abri a janela da sala e vi as minhas vizinhas da frente  entusiasmadíssimas a  falar umas com as outras. Ouvia palavras soltas. Não conseguia perceber o que se estava a passar. Percebi que algo de anormal se passava. Tentei chamar a atenção de uma delas, e perguntei-lhe o que  estava a acontecer??!!
"Não sabemos ao certo, mas parece que há uma revolução em Lisboa.  Na rádio, estão a pedir às pessoas que não saiam de casa. Que se mantenham em casa" - respondeu-me a D. Nisa."Foram os militares que fizeram uma revolução!!"
Fiquei apreensiva, um pouco preocupada, pois o Zé tinha saído, como todas as manhãs, às 7 horas da manhã e trabalhava no Banco Espírito Santo,  na Rua do Comércio. 
Passadas uma ou duas horas chegou o Zé a casa. Quando ele ia apanhar o comboio, alguém o avisou de que tinha havido uma revolução e que ninguém podia passar. A Baixa estava cheia de militares, que obrigavam as pessoas a apanharem o combóio e voltar para casa. O Zé e o colega Barros decidiram não ir para o Rossio. Foram calmamente à praça de Queluz, compraram cada um 1Kg de carapaus e regressaram para casa, em Massamá. Quando ele chegou a casa, fiquei bastante aliviada, pois não sabia nada dele.
Ao almoço, comemos os carapaus fritos com um arrozinho de tomate. Não saímos de casa. Acatámos os conselhos da rádio e da televisão. Não despegámos os olhos da televisão durante todo o dia. Esperávamos ansiosos a apresentação da Junta de Salvação Nacional. Quando vimos aqueles militares, todos medalhados todos muito sérios, muito aprumados, o Galvão de Melo com uma cara que era de fugir, fiquei receosa, não estava a perceber o que aqueles homens de aspecto tão austero e sisudos nos poderiam dar...
A Cacilda e o Barros vieram para nossa casa, passaram a tarde e a noite connosco. Foi um dia muito, muito especial. Lembro-me de sentir um misto de alegria e de ansiedade. Sentir que finalmente o meu desejo de viver num país livre e democrático estava prestes a acontecer... mas o aspecto dos militares da Junta de Salvação Nacional não me tranquilizou muito....
Zuzu e Marta 8 dias

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