quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A MINHA MARTA

É a primeira vez que menciono o nome da Marta. Não o tenho feito, propositadamente. Porque quando escrevo sobre a Marta, falo dela a alguém ou penso nela, vem-me uma imensa e enorme tristeza, que me deixa muito, muito triste.
No dia 4 de Fevereiro de 1995, há 16 anos, cerca das 14h, a Marta partiu para sempre, rumo às estrelas, numa manhã de sol intenso, fria de inverno, em Beja.
Desde a sua partida súbita e inesperada que eu nunca mais fui a mesma... um buraco enorme, abriu-se no meu peito e continuo a senti-lo aberto, negro e dorido... passaram 16 anos e cada hora, cada dia, cada ano a tristeza, a saudade cresce desmedidamente... a sua partida fez-me tanto mal...

A Espera...

Para quê esperar? Sei que não vens.

Virá a tua irmã, a tua amiga

Tu não aparecerás...

Afinal eu não estou à tua espera!...

Tu estás sempre dentro de mim.

Sinto-te, presença suave e calma

Presença atribulada e conflituosa...

Durante nove meses esperei que te tornasses gente para que conhecesses o Mundo.

Alimentei-te com o meu sangue, senti-te mexer e remexer...

Andava angustiada porque mostravas pressa de te libertares de mim.

Então, o médico ajudou com injecções e injecções, todos os dias levava duas!...

Andava com medo de te perder.

Sentia que trazia dentro de mim uma "coisinha”, que iria ser muito importante para todos.

O teu nascimento foi tão doloroso ... penso que foi para nós as duas!...

O teu esforço foi tão grande que tiveste que ficar durante 12 horas, na incubadora, mas tu eras forte e conseguiste ultrapassar os teus primeiros momentos de vida.

Como eras linda! Eras uma bébé perfeita e bonita ...

Não quis amamentar-te, pois tive medo de ter uma mastite, hoje estou arrependida. Gostaria de te ter alimentado com o meu leite, durante os teus primeiros meses de vida, quem sabe se não terias mais resistências.

Como tu eras saudável! Nunca estavas doente! Estavas sempre pronta a comer!... Sorrias constantemente, eras feliz e todos estávamos felizes por termos mais uma " coisinha fofa" em casa.

Sabes? Hoje, a tua presença dentro de mim é tão forte, que te sinto dentro do meu coração.

Minha querida! Como é possível durante 24 horas sentir que estás sempre comigo?!

A tua falta é enorme. Quando o vento sopra, de mansinho nas folhas das árvores, eu penso como tu o gostavas de sentir.

Quando o Sol é forte e transpiro dentro do carro, lembro-me de quanto tu eras encalorada e ficavas vermelha com o calor!

Estou à espera da Rita. Telefonei para onde ela está, afinal ainda está na consulta!... Como ela tem sofrido, sem querer mostrar o seu sofrimento!

Sabes? Ela esforça-se para mostrar uma força interior muito grande, uma vontade de viver mesmo sem ti, mas eu sinto, com o meu coração de mãe, que ela está a fazer um esforço grande de mais...

28 de Abril de 1995 - Sexta-feira ,19h 45m

1 comentário:

Marco Aurélio Monteiro disse...

Estou a escrever porque senti necessidade de o fazer,não o fiz antes porque não sabia da existÊncia deste blogue dedicado à Marta,eu só soube porque acabo de vir da Paiã do almoço dos antigos alunos e foi o David Simões ( o americano) que era da turma da Marta que me falou do blogue.
Ainda para mais fez ontem anos que a Marta nos deixou.
Conheci a Marta muito bem, entramos para a Paiã no mesmo ano, ela para industrias alimentares e eu para agro-pecuaria,recordo-me dela usar uns xailes pelos ombros parece-me que todos os dias levava um diferente.
Cheguei a sair à noite com a Marta e com a sua irmã.
Fomos de viagem de finalistas a Palma de Maiorca, divertimo-nos que nem uns loucos,pela ilha nos jipes que nós alugamos.
Eu sempre achei a Marta muito madura e responsavel para a idade,comparada comigo que era um autÊntico gaiato.
Soube da sua morte pela Olga que tinha sido da turma da Marta na Paiã e estudava em Castelo Branco juntamente comigo.
Não fui ao seu funeral mas recebi uma carta da mãe a informar-me.
Não fui ao funeral por cobardia,não queria acreditar que uma rapariga da minha idade tinha partido tão permaturamente.
Não fui porque não tive força para enfrentar os Pais, a Irmã, a familia.
Não fui porque queria guadar só recordações boas.
Não fui porque não tive coragem de enfrentar a dura realidade que é a morte.
Hoje que sou pai de um menino faz amanhã 20 meses,nem quero pensar no sofrimento que levam dentro de si,os Pais e Irmã.
Agora passados estes anos todos só quero deixar um grande beijo para a Mãe,Pai e Irmã e que continuem a ter muita força.
Durante estes anos todos recordo-me muitas vezes da Marta e do que lhe sucedeu.
Que a sua alma esteja em bom lugar e que descanse em paz.

Marco Aurélio