domingo, 2 de maio de 2010

A JANELA IMAGINÁRIA

É Alentejo, uma aldeia branca caiada ainda de cal, as casas de pé azul e amarelo, e paisagem que não finda.

Perto da minha casa, mora o Sr. Costa, que tem uma oficina de alumínios. Ele faz portas, janelas, portadas, persianas, etc.

Um dia, estávamos conversando na oficina e eu disse-lhe: - “ Oh Sr. Costa, que linda janela que aí tem!”

- “Qual janela?” – perguntou-me ele

- “A verde!” - disse-lhe eu

E ele muito admirado, respondeu-me: - “Mas eu não tenho nenhuma janela verde!”

- “Não?!!! Porque não olha! Eu através dela vejo o campo verde a perder de vista, os choupos, os ribeiros, a seara cheia de espigas salpicadas de dourado, que o tom do Sol posto, lhes dá a cor da saudade!!!”– disse-lhe eu, com um ar misterioso.

-“Mas eu não vejo nada!!!” – diz-me o Sr. Costa, muito admirado. – “Mas já que vê a janela, diga-me lá se tem vidro?!”

- “Claro que tem vidro!!!” – respondi-lhe eu – “Parece o Sol a brilhar no horizonte, o girassol com a flor imensa, rodando, rodando até ao Sol poente, a marcela singela amarela que brilha na planície alentejana …”

- “Mas eu não vejo nada disso!! “– disse-me o Sr. Costa, muito desolado – “Que mais vê através dessa janela, que não é verde e que você continua a afirmar ver ?!”

- “Porque eu vejo, através dela, o mundo. Ela pode não estar aí, mas para mim, ela está bem à vista!!! “- retorqui. E continuei: - “Há tanta gente que só acredita no que vê!!! Eu vejo através do espaço, da floresta, da terra, da solidão … vejo os carreiros cansados e famintos cheios de poeira da palha do trigo, vejo os pássaros voando pelo céu fora, à procura das migalhas e das palhinhas que vão juntando para fazerem o ninho, vejo as ceifeiras, moças jeitosas curvadas deitando a foice para apanhar o pão que dá alimento ao nosso povo, vejo o suor escorrendo-lhes pelos rostos bronzeados, quando o calor apertava, mas apesar do cansaço, elas cantavam, sorriam e abençoavam a Deus por lhes ter dado aquele trabalho … e através da sua janela, Sr. Costa, eu vejo uma saudade, a cantar no coração…”

Casa Branca, 3 – 2 – 2007

Feliciana Joaquina Capela da Silva

foto do Alentejo - http://ipt.olhares.com/data/big/195/1950225.jpg



1 comentário:

Anónimo disse...

D. Zuzu, estou em Sines vi no computador da minha filha o seu blog. Adorei as pinturas e os contos. Obrigada pelo que escreveu a meu respeito.
Um beijinho, melhoras para o marido.

Feliciana Joaquina Capela da Silva