domingo, 16 de novembro de 2014

A MINHA AVÓ BÁRBARA FARIA 116 ANOS

Avó Bárbara com 60 anos e a Cristina com 1 ano

No dia 12 de Novembro a minha avó Bárbara se fosse viva teria feito 116 anos ( nasceu no dia 12 de Novembro de 1898).
Neste dia 12 de Novembro lembro-me sempre da minha avó e de como ela gostava de festejar os anos, na companhia dos filhos, filhas, noras e genros e  netos. às vezes convidava a irmã Domingas e o marido  que viviam em Estremoz, e o irmão Zé da Rita para almoçarem connosco.  
Sempre foi uma pessoa que gostou muito de contar episódios ligados à sua infância, juventude e de mulher adulta. Tinha sempre assunto e quando estava connosco gostava de falar, mas nunca foi maçadora nem aborrecida.  
Nós adorávamos ouvi-la contar episódios passados com as pessoas de família. Mal ouvia um assunto, ela lembrava-se sempre de um episódio antigo relacionado com aquele assunto. Era uma pessoa  muito interessante intelectualmente, tinha a 4ª classe com o exame feito com distinção, lia e escrevia muito bem. 
Contava muitas vezes o episódio que se passou com um dos primos, penso que se chamava João Falcato, que gostava muito de ir comer a casa da minha bisavó Leonarda Rita, mãe da minha avó Bárbara. Contava a minha avó que ele aparecia sempre à hora das refeições. Eram seis pessoas à mesa, o meu bisavô João de Andrade Falcato, a minha bisavó Leonarda Rita Carreço, e os quatro filhos, a minha avó Bárbara, a minha tia Domingas, o meu tio Zé da Rita e o meu tio Júlio, então ele chegava e perguntavam-lhe se ele queria comer, e ele não se fazia rogado, aceitava logo, sentando-se à mesa  e preparando-se para comer.
A mãe dele, tia da minha avó Bárbara, disse-lhe: "- Oh João, tu não podes aceitar logo à primeira vez que te oferecem de almoçar!, tens que esperar que insistam pelo menos umas três vezes, e então depois é que aceitas!" 
O bom do João chegou a casa da minha bisavó, estavam todos sentados à mesa prontos para comer. A minha bisavó perguntou-lhe: " - Oh João não queres comer com a gente?"
Ele ficou sentado e contou: "- Uma!!"
E a minha bisavó voltou a insistir: "- Mas porque é que hoje não queres comer com a gente?"
E ele contou: "- Duas!"
E a minha bisavó voltou a insistir: "- Não gostas do que vamos comer? não queres mesmo comer?"
E ele contou: "-Três!!"
...E deu um grande salto e foi logo sentar-se à mesa prontinho a fazer a refeição com os primos e os tios. 
Um outro episódio passado também com este primo João foi o seguinte: Como ele continuasse a ir comer muitas vezes em casa da minha bisavó, a mãe dele um dia zangou-se e disse-lhe que não queria que ele lá comesse tantas vezes. 
Um dia, estava já ele sentado à mesa com os primos e os tios, chegou a mãe dele. Ele sabia que ela se ia zangar com ele, por ele lá estar a comer, então começou a gritar: "-Tirem-me a batata da boca!! tirem-me a batata da boca!" 
Estes dois episódios do tempo de juventude da minha avó, são lembrados e contados entre nós com muita frequência, e nunca deixamos de nos rir quando alguém está a comer uma batata cozida e nós dizemos: "- Tirem-me a batata da boca! tirem-me a batata da boca!".
Outro episódio que a minha avó recordava muitas vezes, quando no verão se via um pôr-do-sol muito lindo, com uma cor de laranja no horizonte, era o da Aurora Boreal que surgiu no céu na noite de 25 de Janeiro de 1938, e que ela nos descrevia como apesar da beleza que vinha do céu as pessoas ficaram e entraram em pânico não sabendo o que estava a acontecer. Uns pensavam que vinha aí a guerra, outros diziam que era o fim do mundo, foi uma noite infernal. Encontrei na Net esta descrição fantástica desse fenómenos de 1938, e não resisto a colocá- lo aqui
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PORTUGAL, AURORA BOREAL DE 1938
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PORTUGAL, AURORA BOREAL DE 1938
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PORTUGAL, AURORA BOREAL DE 25 DE JANEIRO DE 1938

Estávamos em pleno Inverno.Dia vinte e cinco de Janeiro de 1938.Tempo de frio ,chuvas intensas e ventos fortes . Por vezes a neve resolvia presentear-nos com a sua visita. Os campos e os caminhos apareciam todas as manhãs cobertos de geada transparente como cristal,o que dificultava o acesso a esses lugares.Era necessário redobrar os cuidados nas caminhadas que não podiam deixar de ser feitas. Os agricultores tinham de deixar que a geada derretesse para poderem colher nos campos os produtos agrícolas para sua subsistência e dos seus animais domésticos.
Este dia estava particularmente frio.Na minha aldeia quase ninguém ousava sair à rua.Nas lareiras crepitava a fogueira e todos procuravam aninhar-se à sua volta para resistirem aos rigores das temperaturas excessivamente baixas.
Na minha casa ,além da fogueira habitual, tinha-se acendido o forno para cozer a broa que a minha mãe amassou como fazia sempre.É que ela não confiava a ninguém esta tarefa!
Se ,de dia, poucas pessoas saíam de casa ,quando a noite caía ninguém mais deitava o nariz fora da porta ,excepto em situações especiais:buscar mais lenha para manter a lareira acesa,tratar algum animal que estivesse a necessitar de cuidados especiais ou então ir ao armazém, onde se guardavam os produtos agrícolas ,abastecer-se de algum que eventualmente tivesse acabado.
No silêncio da noite,qualquer som, por mais insignificante, toma uma dimensão enorme.Foi o que aconteceu nessa noite:ruídos estranhos ,semelhantes à queima de lenha seca,começaram a ser ouvidos por todos nós que estávamos à volta da lareira.O Manuel,nosso feitor, a quem, carinhosamente,chamávamos "Pionas,"ao ouvir estes barulhos , assomou ao postigo da porta para se inteirar do que se passava.Mal deitou a cabeça fora da pequena janela, apercebeu-se que o céu estava vermelho da cor do fogo, parecendo em chamas, donde se desprendiam raios luminosos. Gritou para todos nós:venham ver ,é o fim do Mundo.De imediato gritos aflitivos se fizeram ouvir em toda a aldeia,ao mesmo tempo que se dirigiam para a Igreja onde o Sr Padre António se encontrava, tentando acalmar os seus paroquianos. Todos nós lá de casa fizemos o mesmo,largando tudo.Só o Manuel Pionas ficou mais algum tempo para enfornar o pão que estava na masseira ,tapar o forno e fechar todas as portas e janelas de casa.Só depois disso ,foi ter connosco à Igreja.

As pessoas vinham munidas de lampiões que à pressa tinham conseguido pegar.Mas não foi necessário acendê-los,porque do céu emanavam clarões de luz dum brilho sanguinolento.
As pessoas corriam desesperadamente ,atropelando-se,escorregando aqui e ali sem pensar nas consequências funestas que poderiam advir dessa correria desenfreada. Uma senhora, já de certa idade, que corria e gritava ao meu lado, levando pela mão uma netinha mais ou menos da minha idade, escorregou na calçada ,caíu desamparadamente e partiu um pé.Mesmo assim cheia de dores só parou na Igreja junto da multidão enorme que ali se aglomerava.
Os gritos aflitivos daquela boa gente enchiam a Igreja e faziam-se ouvir por toda a freguesia:É o fim do Mundo; é a guerra ,acudam...
O bom do Sr. Padre António tentava acalmar os seus paroquianos ,explicando que o fenómeno que se estava observando, não era mais do que uma Aurora Boreal ,fenómeno que era visto muitas vezes nas regiões do norte do Globo. Ao mesmo tempo ia rezando com eles.
Esta situação aflitiva durou algumas horas até que a luz do dia ofuscou a luz que tinha incendiado o céu durante a noite longa.
Depois do dia amanhecer e com as sábias palavras do Sr. Padre, o bom povo da minha aldeia,acalmou e voltou em paz para suas casas.No entanto aquela visão dantesca perdurou por muito tempo, talvez por toda a vida, na memória daquela boa gente, assim como perdurou na minha até hoje.E já se passaram setenta anos!...Eu tinha nessa altura quatro anos e nove meses. E essa imagem foi tão forte que consigo descrever tudo o que presenciei e reproduzir textualmente o que ouvi.
No dia seguinte àquele acontecimento,o jornal diário que meu Pai assinava, trazia noticiado o fenómeno observado em todo o céu de Portugal e de outros países.Claro que eu não li a notícia,mas ouvi meu pai lê -la e comentá-la ,tentando explicar, da melhor maneira que sabia, as causas daquele "Belo Horrível".
Achei por bem deixar aqui a descrição deste acontecimento que tanto me impressionou e ,porque não dizer,que tanto me maravilhou!...


27 de Dezembro de 2007


Adélia Barros
http://adeliabarros.blogspot.pt/2007/12/eu-vi-aurora-boreal.html
Ao ler este testemunho desta senhora Adelaide Barros, percebo como deve ter sido marcante para as pessoas a viverem numa aldeia isolada do Alentejo este fenómeno natural. 







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