quinta-feira, 23 de maio de 2013

O TIO CARREÇO
A par da acção politica referida tem o Tio uma actividade económica-empresarial de significado para o desenvolvimento de Estremoz.
Funda uma grande moagem de cereais para panificação. Situava-se esta no extremo poente da rua dos Reguengos, e no mesmo local os celeiros de apoio que ainda hoje existem na mesma rua, descendo-a ao fundo do lado esquerdo, e que são espaços de arquitectura interessante com belas abóbadas.
A energia eléctrica passa a ser produzida em Estremoz, e a vila iluminada, numa central que ele pôs em marcha com uma sociedade que estabeleceu e financiou.
A vila moderniza-se e a expansão sacrifica a linha de muralhas que vai das Portas de Santa Catarina às Portas de Santo António, que ele mais tarde fortemente lamenta, atribuindo ao facto do património na altura não ser suficientemente valorizado, de modo a resolver o crescimento sem aquele sacrifício.
Cria o café Águias d´Ouro numa sociedade por quotas. Monta depois o café Alentejano.
Em 1926, já com o governo da Ditadura Militar, é reconhecido o desenvolvimento de Estremoz e elevada a vila a cidade.
Porta principal da grande Exposição Agro-Industrial de Maio de 1926
Na sua casa vivem sobrinhos que estudam e também se valorizam culturalmente no âmbito da música e das línguas, prosseguindo depois os estudos em Lisboa.
O tio Carreço viaja pela Europa, visitando as capitais mais importantes.
Apoia financeiramente sobrinhos, referi que os meus avós receberam créditos para aquisição de olivais, fundamentais para que com o seu trabalho mantivessem vida independente. Os sobrinhos Francisco e João Alves são apoiados na criação da Tabaqueira. O tio Zé Alves com profissão estabelecida, artífice do ferro (Ferreiro era qualificação de elevado valor na época), vem da Casa Branca e estabelece-se onde instalou a oficina e fez a casa que uma boa parte de nós conhece. Em terrenos e instalações que pertenciam ao tio Carreço e este lhe cedeu, com pagamento ao longo do tempo.
Esse espaço, de que me lembro ainda de grande parte livre de construção, compreendia todo o terreno que vai do jardim, estação de serviço, casa do tio António Alves, até onde hoje se situam os Bombeiros Voluntários. Junto à residência havia uma horta, com bastante arborização e um tanque grande, perto do qual existia uma latada e debaixo desta se situava a grande mesa de pedra que foi transferida depois, para a cozinha grande do quintal quando esta foi feita.
A minha Mãe Florbela depois de ter vindo para Estremoz para casa dos tios Domingas e Zé Alves, por doença da minha avó, não voltou à Casa Branca, ficando a viver em casa do Tio por pedido deste à sobrinha Vicência.

Quarta-feira, 21 de Novembro de 2007

A minha avó VICÊNCIA

Era uma mulher de coragem, determinada, de poucas palavras.
Uma vez na "quadra", cavalariça, ajudava o meu avô que tratava a ferida de um macho ao que parece nada meigo, e reagindo mal ao tratamento começou aos saltos e aos coices. Foi atingida num braço, o meu avô estava mal colocado entre a besta e a parede, e ela manteve a ajuda. Quando a situação ficou sobre controle o meu avô encontrou-a de pé com uma mão apertando o braço fracturado e um profundo golpe cuja hemorragia lhe empapava a blusa e parte da saia.
Já velhota teve um entupimento no saco lacrimogéneo. Foi-lhe feita uma pequena cirurgia, em Estremoz , dificuldades em anestesias , a minha avó prescindiu da dita. Estava acompanhada da filha Capela a que agarrou a mão durante a intervenção. A meio desta a filha gritou " ai mãe a minha mão", à minha avó não ouviram um piu.
Em 1918 teve a pulmónica, gripe também chamada "a espanhola"e que matou dezenas de milhares de portugueses. A minha mãe, filha mais velha tinha 4 anos ,veio para Estremoz para casa da cunhada Domingas e irmão Zé Alves e a minha avó venceu a morte.
Dizia a Lena que havia o hábito de permuta dos sobrinhos na família. Ele era criado pela necessidade de entreajuda. Os avós Zé e Domingas tiveram muitos filhos, alguns muito próximos e assim o Jaime, Joaquim e Adélia passaram algum tempo em casa da minha avó. Mais tempo o Jaime razão da sua proximidade.
Foi grande ajuda do marido, no trabalho, na orientação de vida procurando crédito para conseguir os seus haveres e resolver a vida.
Vivi com ela largos períodos de férias na Casa Branca, lembro-a muito frequentemente, como gostaria que os meus netos me recordassem, pois marcou muito a minha formação.
Na fase final da sua vida entretinha-se com as linhas e as agulhas. No entanto eu tenho uma colcha enorme que cobre, caindo sobre o chão, uma cama de casal dum bordado lindo e perfeito, que ela fez já em Estremoz e bem depois do falecimento do meu avô.

Passeios com o Aníbal

Hoje vou contar um belo passeio dos muitos que fiz com o meu querido primo Aníbal. Vínhamos falando constantemente que iriamos ao Redondo a pé, para grande preocupação da minha mãe e da Tátá. Penso também que sempre se convenceram que isso não passaria de um projecto. Até que uma célebre madrugada de domingo, naquela altura as lojas estavam abertas todo o dia de sábado, bate o Aníbal, com todo o cuidado, que não era o seu habitual pois de outras vezes parecia que a casa vinha abaixo, à porta de casa dos meus pais por volta das 5 da madrugada. Chamou-me para o nosso tão pensado passeio. Não se via nada, daquelas noites muito escuras, o Aníbal acendeu um fósforo para eu ver os degraus à saida de casa dos meus pais e aí fomos nós apanhar a estrada para a serra d'ossa. Depois de caminharmos algum tempo saímos da estrada, o Aníbal apanha uns gravetos, faz um belo lume, como só ele sabia fazer, abre uma bolsa naqual eu já tinha reparado e pensado que devia conter algo de delicioso. E era mesmo, como não podia deixar de ser. Umas fatias de pão que ele enfiou num pau e pôs a torrar nas brasas, que depois foram muito bem esfregadas com uns dentes de alho e barreadas com um bocadão de toucinho. Um pequeno almoço DIVINAL, a claridade já tinha começado a despontar, sentados numas pedras deliciados com o petisco que até hoje, melhor me soube. Lume apagado, com o ensinamento que assim é que se devia fazer, é que eu tinha 14 anos e o Aníbal 36-37, e ala que lá vamos nós continuar com a nossa passeata. Até à serra d'Ossa foi um andamento em zigue-zague. O Aníbal via um monte de um lado da estrada lá íamos nós, depois conhecia umas pessoas que habitavam do outro lado, lá atravessávamos novamente a estrada. Para meu grande regalo vínhamos sempre com laranjas, peros, dessas visitas. Até que chegámos à do Xana e quem havia de lá estar. O já aqui falado Tio António Alves. Assim que o vi dirigi-me logo a ele para o cumprimentar, pois se não o fizesse de imediato acontecia o que o Rui aqui tão bem relatou. Pergunta do tio: - D'onde vens? De Estremoz, disse eu muito de mansinho. Como? A pé...Deixa-te de parvoêras...e eu muito sorrateiramente vou para o lado do Aníbal e já não abri bico, se não cá fora para lhe contar o que se tinha passado. E lá continuámos a nossa odisseia, agora só pela estrada direitos ao Redondo que o dia já ia adiantado. Chegámos às 10h da noite e, nessa altura, pedimos que nos fossem buscar de carro...No outro dia fiquei em casa, não pude ir às aulas pois as dores nos músculos das pernas eram mais que muitas. Recordações destas são muitas e as saudades também.

Mon Oncle

Desculpem lá, hoje bebi um galão e agora não consigo dormir, vão ter mesmo que me aturar.
Já à muito tempo que ando para escrever sobre isto, mas normalmente falta-me a coragem, o medo do ridículo é mesmo ridículo.
Ora o assunto é o seguinte, proponho aqui, aos Falcatos, aos Alves, aos Simões, Trindades e Capelas Ruivos, uma homenagem ao senhor mais bonito, meigo, atencioso de Estremoz e arredores (Casa Branca incluída), ao meu Ti Jacinto!!! Ora aqui está uma bela razão para nos juntarmos todos, duvido que alguém tenha razão de queixa do meu tio (a ti marilena não conta), é impossivel. Ele é maravilhoso! Não sei se alguém viu este sabado o filme do Jacques Tati "Mon Oncle", eu sei que o meu tio não é propriamente um clown, mas há qualquer coisa de uma extrema ternura, de cumplicidade naquele personagem que eu sempre conectei com o meu Ti Jacinto, e além disso, arre, o Ti Jacinto é mesmo boa pessoa, bolas!! Se há alguém que mereça uma homenagem é ele!! Quem está comigo???!! Bora lá malta!! (Tanta mini que ele me pagou na Lili, é o minimo que posso fazer...)

Avô Anibal - Parte II

Não tenho grandes parecenças nem com Alves, nem com Falcatos. Dizem que são todos artistas, muito jeitosinhos com as mãos, que desenham muito bem, treca treca treca treca... Eu cá, não desenho um repolho, nem que ele se esfregue em tinta e rebole pela folha fora, é que não vale a pena. Mas há uma coisa em que sei que me assemelho, pelo menos com o meu avô, é a fazer petiscos!! Pelo menos a minha avó sempre se queixou disso, de aparecer sabe-se lá de onde, com não sei quem atrás, chegar a cozinha e em menos de 10 minutos, e com muita pouca coisa, faço um belo pitéu e deixo a cozinha num desastre!! O meu avô também era assim, lembro-me tão bem de ele entrar casa a dentro, com um molho de "camaradas" atrás, assim que isto sucedia a minha avó lançava logo um "...ai Anibal...", e também não era preciso muito tempo para a cozinha ficar um caos, mas ora e depois... Era sempre com cada petisco, aí já a minha avó não se queixava, até já bebia meia cervejola, nos dias de maior rebeldia uma cervejola inteira.
Outra coisa que eu faço, e que o meu avô também fazia é cozinhar ás tantas da noite por apetites, só que o apetite dele dava sempre para o mesmo, "bolema de torresmo", aquilo era uma delícia, ficavam os coiratos para roer, nham nham... Houve uma vez, que o Eduardo, irmão da Papu, entrou na cozinha da avó Flor, e o meu avô estava a cortar uma bolema dessas, ora o desgraçado do Eduardo, que tinha começado a ser vegetariano à pouco tempo, não conhecia aquele bolo, muito menos os ingredientes, tirou uma fatia e espetou-lhe uma valente dentada, eu fiquei parva, a olhar, e perante o "huummm..." de regozijo do Eduardo o meu avô perguntou "gostas??", o Eduardo só dizia, "Ist'é muita bom!!", eu continuava parva a olhar, e o meu avô, continuou a cortar a bolema e sem olhar para ele disse "Ainda bem que gostas, é feito de torresmos, não sentes umas codeazinhas??", o Eduardo franziu o sobrolho, mas desconfio que ele não acreditou no meu avô, porque voltou a repetir.
Já agora, ninguém sabe a receita deste bolinho meeeeeeeesmo bom para o colestrol, não???

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