quinta-feira, 23 de maio de 2013

O TIO CARREÇO

O TIO CARREÇO   (Texto escrito por João Armando)
O Tio homem generoso, dedicado à família prestando-lhe grande apoio, utilizou também os seus recursos económicos em empresas, das quais o desenvolvimento de Estremoz beneficiou.

Não conheço em detalhe a evolução da sua economia. Ouvi à minha Mãe, Avó e Tios que ele negligenciou os apoios a terceiros, confiando demasiado nos outros sem se proteger, o que levou a sua situação económica a forte retrocesso.

Politicamente as mudanças eram-lhe desagradáveis, com o golpe militar do 28 de Maio e depois o caminho para a consolidação da ditadura. A economia do país e a conjuntura internacional era de crise crescente.

Em 1931 morre a Tia Mariana, e a minha Mãe com 19 anos fica a substitui-la na orientação da casa.
O Tio muito angustiado com tudo isto ausenta-se para África, Guiné, onde tinha uma propriedade originária da herança que recebera de Constantino Barbosa. Aí passou alguns anos e teve uma atitude para com os africanos pouco comum na época. Dedicou-se a promover o seu conhecimento, com o ensino do português falado e escrito, mantendo sempre uma relação humanitária no tratamento entre homens sem distinção de raça..
Escreveu o Tio um diário de toda a sua estadia em África, que eu vi e a que me leram algumas partes ( o diário era manuscrito ). Também vi algumas fotografias do Tio na sua acção missionária do ensino da língua e da escrita. O Tio Xico ( Francisco Alves ) vivia num quarto em casa do Tio, bem como a Prima Joaninha ( Joana Maria Simões ) que coabitou com ele até à sua morte. Suponho que o Tio Xico, que geriu o encerramento da casa após o falecimento do Tio, tivesse ficado com todo este espólio, o que era natural. Constou-me há pouco que o telegrama de António José de Almeida para o Tio, comunicando a implantação da republica em Lisboa, ainda existe.
Tendo pouco mais de 70 anos, o Tio ressente-se na sua saúde da vida em África, e de toda esta fase da sua vida. Sofre do estômago, emagrece continuamente e convence-se que tem um cancro. A irmã Mariana teve esta causa de morte. Regressa a Portugal e é-lhe diagnosticada uma úlcera gástrica grave, que o Tio cura, regressando depois a Estremoz.

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