quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A segunda-feira de Páscoa


Naquele dia de Páscoa, estava eu a passar uns dias com os avós no Alentejo, quando o avô decidiu ir fazer um piquenique com os amigos de Casa Branca, como é costume na segunda-feira de Páscoa. Este não foi um simples e rápido piquenique, mas sim um belo e interminável almoço, com direito a mantas, cadeiras, mesas, camas de rede e muita conversa e animação. Este dia foi bastante marcante para mim, uma vez que o tempo se revelava bastante assustador e o regresso a casa um tanto sobressaltado.
Após o almoço e no início da sesta para uns e da brincadeira para outros (para mim), começou o céu a enegrecer e o vento a levantar-se, sugerindo uma trovoada iminente. Rápido nos levantamos, arrumamos a trouxa e metemo-nos ao caminho. Contudo, o que não esperávamos era que o carro do João Manel, onde eu ia com a minha "recém melhor amiga" Susana, de tão baixo que era, tivesse dificuldade em atravessar um pequeno riacho que, com a chuvada que se apoderou, aumentou de caudal. Eu, com os meus 6 aninhos, estava amedrontada com receio de não chegar a casa. Lembro-me da Susana contar histórias para me entreter e de dizer para pôr a cabeça no colo dela para evitar ver a tempestade que tanto me inquietava. Atrás vinham os avós, e isso sim, era outro dos motivos da minha inquietação.

A caminho da Casa Branca recordo-me de um maluco, coitado, que andava a passear de bicicleta com uma chuva torrencial que se adensava.

Mal chegamos à nossa casinha, a avó acendeu o lume de chão.

Para piorar a situação, não tínhamos luz... Não foi uma coisa que me agradasse muito na altura, muito pelo contrário, fiquei aterrorizada com o facto de horas mais tarde ter que ir dormir sem luz. No entanto, passamos um bom serão, como sempre, junto do lume de chão a falar sobre a grande aventura do dia.

Aqui está um pequeno episódio inesquecível passado com o meu avô, que me marcou profundamente e de uma forma tão especial que ainda hoje guardo na memória. Ironicamente, hoje adoro trovoadas e sinto as saudades que esse dia me deixou, tanto pelo ambiente que se viveu como pela companhia única do meu avô que tive a sorte de presenciar.

Rita Varela Ramos

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