domingo, 14 de outubro de 2007

MULHERES TÃO CORAJOSAS...

"Os amigos são como anjos que nos levantam quando as nossas asas têm problemas, lembrando-nos como voltar a voar. "
No Hotel Tivoli Tejo, decorreu o X Forum das Doenças Reumáticas. Por impossibilidade, só me foi possível estar presente no sábado, dia 13 de Outubro de 2007.
Como sempre, o 1º dia é dedicado às paletras dos médicos, profissionais de saúde e outras pessoas estudiosas desta temática.
No 2º dia, sábado, a manhã é dedicada às apresentações dos doentes, dos familiares ou de outras pessoas que de alguma maneira estão ligadas à doença.
Este ano o tema era: "A importância das pequenas coisas..." . E como todas as pessoas ali presentes, fiquei bem consciente da importância das pequenas coisas!!... de um sorriso...de um telefonema em dia de crise... de um apoio quando se está só...
Para mim, o 2º dia é sempre o que mais me preenche... há uma partilha de experiências, uma conversa sincera e aberta, uma troca de pontos de vista, de amizades, de e-mails, de números de telefone.
Assim, é no Sábado que eu volto a encontrar aquelas pessoas de quem eu tanto gosto e que por email trocamos umas breves palavras ao longo do ano... é nesse 2º dia que eu sinto como a Liga é constituída por gente amiga, gente que partilha, gente que sofre, gente de coragem, gente extraordinária.
E todos os anos, eu conheço aí alguém que nunca mais deixará de ser uma amiga, uma presença na minha vida...
Por ser o 1º ano em que estive presente, foi aquele em que "eu descobri" mais mulheres de garra e de coragem: a Fernanda Ruaz, a Irmã Lina, a Diamantina, a Arlette, a Irene, a Elisabete, a Drª Rosa, a Glória, a Ana Ribeiro, a Sandra Canadelo e muitas, muitas, muitas outras...
No 2º ano, conheci a Dulce Almeida. A minha querida e doce Dulce. Ela é uma doçura tal como a baptizaram com o seu nome Dulce! A querida Dulce sofre de fibromialgia... mas a doença nunca a impediu de tirar a sua licenciatura, de entrar no mercado de trabalho, de lutar, de tentar vencer... e com aquele ar angelical, aqueles traços suavíssimos e belos, ela apenas me diz na sua voz suavíssima: "Mas eu ando tão cansada!!! Tudo o que faço é com tanto esforço!!" . Ela precisa de partilhar comigo o cansaço permanente que nunca a deixa, nem um segundo sequer!, que não a deixa ser a jovem livre e descontraída... e eu apetece-me tanto confortá-la... e apenas repito palavras vãs, bobas... pois eu sei ( ou melhor, calculo!) o quão difícil é para ela viver, trabalhar, assumir responsabilidades, sem nunca desistir... e sentir um cansaço permanente por todo o corpo... e sentir as dores... e ter que tomar a medicação... e....
E a Dulce este ano até participou e interveio no debate... está a desabrochar a minha querida Dulce...
No 3º ano, conheci a VS.
A VS é mais uma daquelas pessoas de quem nunca mais me poderei esquecer. Sofre de uma variante de doença reumática que lhe modificou as feições, as mãos, os pés... o corpo.
Então a VS fechou-se numa concha. Ela pensava não sair mais dali. Sair para quê? O mundo cá fora é tão desleal, tão agressivo, tão brutal?!! e ela fechada naquela concha protectora, achava que nada mais havia a fazer do que esperar...esperar... esperar pelo dia, em que um cientista qualquer, de qualquer país do mundo, descobrisse a cura milagrosa para a sua doença sem cura... mas, tal como o caracol que se atreve a sair do aconchego da sua concha, muito a medo, ela foi saindo... saindo... e viu que ao seu lado havia pessoas, jovens como ela, que também sofriam... que viviam com a doença... e que de uma maneira "natural" encaravam esse "mal" e não desistiam... e assim a VS viu que a Rita, a Sandra, a Fernanda, a Mariana, a Glória, a..., a..., estavam ali no Fórum a partilhar a sua vivência, a dar os seus testemunhos... e a dar as boas vindas às associadas que apareciam de novo... Todas estavam dispostas a dar as mãos e a formar uma cadeia de união indessóluvel... inquebrável... e este ano... quase que por milagre, a VS fez uma apresentação fantástica, sobre a sua doença.
E ali estava uma VS que nós desconhecíamos- confiante naquilo que afirmava, conhecedora e estudiosa do assunto, aberta e descontraída para a assembleia que a olhava... alguns de nós incrédulos pensávamos: " Mas é a VS que está a falar! e tão segura de si! e finalmente conseguiu sair da concha em que se tinha fechado!!"
Todos estavamos boquiabertos, extasíados com o seu à-vontade. E só me apeteceu correr para a tribuna e dar-lhe muitos beijos e muitos abraços e dar-lhe os parabéns por ela ter conseguido deixar a outra VS dentro da concha....
Este ano conheci a Elsa. Outra mulher de coragem, de garra, de força. Outra mulher que não se deixa abater pela doença. A Elsa concorreu ao concurso literário promovido pela Liga e o seu texto ganhou o primeiro prémio. E a Elsa leu o seu texto... e o texto é uma ode ao doente reumático... é um testemunho poético de como se sente uma jovem mulher, mãe e esposa, que carrega o "fardo" da Artrite Reumatóide... e as suas palavras mágicas encheram o auditório... e cada palavra entrava-nos pelos ouvidos para nos acordar, para nos despertar para a insensibilidade.... e as lágrimas corriam nos rostos dalguns que estão já despertos para o problema... o texto é lindo.... mágico ... no momento da sua leitura, os pêlos dos braços eriçavam-se a cada palavra forte, precisa... dura... certa ...
E, mais uma vez, eu saí daquele 2º dia do Fórum, angustiada por ver tão poucas esperanças de cura para uma doença que afecta uma tão grande percentagem de mulheres jovens, mas ao mesmo tempo, muito, muito aliviada, quase feliz... por ver mulheres tão corajosas...

1 comentário:

Anónimo disse...

Querida Zu,

Resumiu tão bem o que é estar no Fórum do Doente Reumático... Essencialmente, é uma oportunidade de partilha, encontros ou reencontros. De há uns anos para cá, o evento tem evoluido: primeiro queriamos ouvir os especialistas (que continuamos a ouvir e a contestar sempre que entendemos); hoje em dia, queremos principalmente compartilhar das nossas experiências enquanto familiares, amigos e pacientes. Uso aqui esta palavra literalmente no seu duplo sentido. Ser/estar Doente é ter de ser Paciente, respirar fundo e acreditar em dias melhores. Ter paciência, primeiro connosco próprios, para depois a transmitir a quem nos rodeia.
Ser doente reumático crónico é ser paciente para redescobrir cada passo da nossa caminhada pela vida; para encontrar um sorriso ou um sonho dentro de nós...
Mas acima de tudo, continuamos pessoas como todas as outras; apenas um tudo nada mais pacientes. O nosso ritmo é outro, desincronizado: uns dias valseamos lentamente, outros agitamo-nos ao som do rock e da pop.
Por vezes, apreciamos tudo ao pormenor mais ínfimo. Vemos as nuvens a passar no céu, vagarosamente, deleitamo-nos com o tic-tac compassado do relógio. Repomos energias. E depois, temos aqueles momentos em que as consumimos, quase contra-relógio, nessa sede de viver o momento, intensamente.
É, também, assim o Fórum do Doente Reumático. No primeiro dia, bebemos as palavras dos especialistas, dos técnicos. No segundo dia, vivemos intensamente as nossas partilhas de coragem ou desalento, descobrindo novas amizades nesse encontro, recheadas de consolo e conselhos.
Somos, numa palavra, pacientes...
E tanto que contribuem os encorajamentos que recebemos!
Um abraço amigo,
Elsa Frazão Mateus