Dos 365 dias do ano, grande parte deles são passados sem quaisquer acontecimentos relevantes... alguns dias são passados com indiferença, sem olhar a passagem do tempo, chegando à noite e vendo que nada fiz nem nada aconteceu de interessante... noutros a angústia e a tristeza entranham-se nos segundos dos dias e nesses eu sinto-me mal, angustiada e triste, por vezes sem uma razão aparente... noutros dias acontecem coisas muito importantes , que deixam a marca, de tal maneira forte que nunca mais esquecemos a data... foi assim no dia 2 de Julho.
Sem que nada o fizesse prever, o meu pai que dormia a sesta, sentiu-se mal, chamei o INEM que o transportou para o hospital, pois via-se que o meu pai não estava nada bem. Recordo-o a ser levado na maca, a tentar dizer-me qualquer coisa, que não sei o que seria, e os bombeiros a recolocarem-lhe a máscara do oxigénio que ele tinha tirado para poder falar comigo.
Nunca pensei que seriam aqueles os últimos minutos que via o meu pai com vida; pensava que ele regressaria recuperado da indisposição que ele sentia... mas o seu coração não resistiu e a meio do caminho, na estrada de Santo Amaro a ambulância teve que parar, chamaram os paramédicos e tentaram ali, debaixo de um sol abrasador, num dia quentíssimo de verão, reanimá-lo. Não conseguiram que o seu coração voltasse a bater, assim, ele deu o seu último suspiro longe dos que ele amava... é assim que agora morremos.... sem uma mão amiga e reconfortante, que aperte a nossa para dizer adeus... para dizer que partimos para sempre...
É tão estranho saber que não nos despedimos, que não dissemos a última palavra de conforto...
2 comentários:
querida Zuzu, como compreendo o teu sentir no lamento das tuas palavras. Mas a vida é mesmo assim, no seu inexorável rolar dos dias, no ciclo que cada um de nós tem no desempenho da vida. E o mais importante é o que foi dito em cada palavra e silêncio na partilha da vida que tiveram. No carinho e aconchego que ofereceste. O que ficou por dizer faz parte d mistério que não conhecemos do momento em que se parte, sem dizer adeus, mesmo estando próximo. Talvez seja a leveza da ausência para que a saudade possa resistir, ou se possa ir aprendendo a aceitar uma presença de outra maneira na distância forçada, sem tempo certo,visível na força com que se encaram os dias. A sua presença em ti, vai-te dando essa coragem necessária para ultrapassar mais estes momentos duros. Um beijo muito especial para vós, no carinho que tinha pelo Pai Vitalino, apesar da minha pouca presença.
Chorei com a garganta apertadíssima entupida com mais lágrimas depois de ler este teu (triste e bonito texto). Mas obrigada pelo texto. Sofro muito por te saber tão triste. Talvez ajude pensar que o avô esteve connosco bastantes anos. E a maioria desses anos até foram bons. Tens ainda uma mãe que precisa de ti e do teu espírito que, ainda que triste, consegue manter-te viva. AMO-TE.
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