sábado, 6 de abril de 2013

CARTA A MINHA AVÓ JOSEFA DE JOSÉ SARAMAGO





Carta para Josefa, minha avó

Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo – e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira – sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.

Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém.
Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrijada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos – e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti – e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava.

Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas – e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!”.
É isto que eu não entendo – mas a culpa não é tua.

José Saramago, in “Deste Mundo e do Outro

O PRINCIPEZINHO DE ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY


Com mais de oitocentos milhões de exemplares vendidos, quase 500 edições publicadas, em mais de 160 línguas e dialetos, publicado em 1943, nos EUA, "O Pequeno Príncipe" é um dos livros mais lidos em todo o mundo!
Parecendo ser um livro escrito para crianças, aparentemente simples, porém com um conteúdo poético e filosófico profundo, trata-se da 3ª obra literária mais traduzida no mundo, ficando em 1º lugar a Bíblia Sagrada, em 2º o livro "O Peregrino", o romance de Exupery encanta a todos quantos tem a oportunidade de se deliciar com as aventuras do Principezinho (assim conhecido em Portugal).
Através da leitura do Pequeno Príncipe, podemos trabalhar conceitos e preconceitos que acabamos por manter ao longo de nossa existência e que, por vezes, nos impedem de enxergar "o essencial" e de ver "o bem". 
Nós nos enganamos muitas vezes na análise / avaliação de situações, de pessoas, julgando precipitadamente e ferindo, magoando, quando podíamos ser e dar amor.
Venha conosco, comente! As aventuras do livro "O Pequeno Príncipe"  resultam em lições de vida, interpretações as mais variadas. Diga o que você entende, como vê cada momento de discussão acerca deste livro que tanto nos encanta e nos leva à reflexão até os dias atuais!
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
“ – Ela é sozinha, porém, mais importante que todas vós, pois foi ela que eu reguei. Foi ela que pus sob a redoma. Foi ela que abriguei com o para-vento. Foi por ela que matei as larvas (exceto duas ou três, por causa das borboletas). Foi ela que eu escutei se queixar ou se gabar, ou mesmo calar-se algumas vezes, já que ela é a minha rosa.”


“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração... É preciso que haja um ritual.”


“Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como se fossem música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim não vale nada. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando tiveres me cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...”


“Talvez esse homem seja mesmo um tolo. No entanto, é menos tolo que o rei, que o vaidoso, que o empresário que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, ou uma flor. Quando o apaga, porém, faz adormecer a estrela ou a flor. É um belo trabalho. E, sendo belo, tem sua utilidade.”


"Tu não és para mim senão uma pessoa inteiramente igual a cem mil outras pessoas. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo..."

"- Se alguém ama uma flor da qual só exista um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para fazê-lo feliz quando as comtempla. ele pensa "Minha flor está lá, em algum lugar..." Mas se o carneiro come a flor, é, para ele, como se todas as estrelas se repentinamente se apagassem! E isto não tem importância?"


" Eis o meu segredo. É muito simples:
só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos."

"Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante"

"Tú se tornas ETERNAMENTE responsavél, por aquilo que cativas!"

“Tu julgarás a ti mesmo – respondeu o rei. – É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.”

“A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa.”

“ – Vai ver as rosas. Assim compreenderás que a tua é única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.”

“É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas.”


“Mas eu não estava seguro. Lembrava-me da raposa. A gente corre risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”

“Ele era para mim como uma fonte no deserto.”
 
 

 
O essencial é invisível para os olhos...num tempo no qual a imagem prevalece, onde o belo é o sonho maior, onde uma imagem vale mil palavras, descobrir-se essencialidade no invisível é algo na contramão do sentido comum, geral. A materialidade visível é finita e limitada, enquanto que o invisível - e imaterial - , simplesmente não tem dimensão..E aí é que se descobre o quanto importa perceber-se a grandeza do invisível aos olhos...Deus, o amor, o ar que respiramos, as emoções que vivemos, são todos impalpáveis porém essenciais...Eu descobri, em Exupéry, um convite a mergulhar no mundo onde se fecha os olhos e se abre uma visão impressionante ..Tem sido assim na minha relação com Deus, tem sido assim em relação ao amor...Convido voce, amigo, a fechar os olhos, abrir-se ao invisível e descobrir um mundo onde tudo que é importante não é comprado ou tomado, mas conquistado mansamente por esse mesmo coração.CONFESSO QUE VIVI, de Pablo Neruda (Rev. Luiz Carlos Esperon - rev.esperon@hotmail.com)

 O Pequeno Príncipe traz à tona uma palavra esquecida por muitos, hoje: “Cativar”, ou seja, “criar laços”.
 
No livro, num momento de diálogo, a raposa se virou para o Princepezinho e disse:  “...Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”
 
Os imediatismos da vida moderna tem sido desculpa para grande número de pessoas que fogem de relacionamentos, evitam se comprometer seja numa relação amorosa, ou até mesmo numa relação de amizade.

Quanto tempo dura uma “amizade”, um “namoro”, um “casamento”? Cativar envolve comprometimento, responsabilidade recíproca, envolvimento, o que de longe é visto nos dias atuais.

Se algo estiver diferente do que pensamos ou queremos, buscamos, então trocamos de amigos, de esposa, de marido, afinal, tem tanta gente por aí... (essa é a real!)

Quando a raposa pediu ao princepezinho “ - Cativa-me”, ele respondeu como muitos hoje:

Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.”

Ninguém quer parar para estabelecer laços fortes que durem com o tempo. Ninguém quer “perder tempo” com nada, muito menos com outra pessoa.

Mas, quão sábia foi a raposa, ela respondeu:

- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas.”

A falta de amigos verdadeiros, resulta numa vida monótona, relacionamentos frios, vazios de significado. Conhecer, é envolver-se.

Não devemos agir com o próximo de forma irresponsável, descomprometida. Estamos juntos, nos permitimos o contato, porém, de repente, expulsamos essa pessoa de nossas vidas, sem nos importar com os seus sentimentos.

Às vezes, você não se envolve com a pessoa, mas a pessoa se envolve com você.
Isso nos faz lembrar uma outra palavra: “saudade”...

Como é bom lembrar de alguém que nos fez bem...

Como é bom você se pegar sorrindo à toa, sozinha, sem explicações, apenas porque lembrou de alguém a quem você quer bem.

Não sei se já aconteceu contigo, você está num local e de repente sente no ar o perfume da pessoa amada, você vive a presença de um grande amigo, ou de um grande amor...

Assim como a cor do trigo, ouro, que serviria para lembrar do princepezinho, por causa do louro dos seus cabelos, quando ele partisse, não importa se quem amamos irá partir. Que fiquem as lembranças. Mas que a vida tenha sentido. E o sentido da vida está nos relacionamentos que partilhamos, nos laços criados.

Posso até chorar, mas eu vou lembrar que um dia amei e fui amada.

Se permita cativar, dê sentido à sua vida. Mas, lembre-se: “Tu és eternamente responsável pelo que cativas”. 

(Por Elisabete Barbosa)



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