domingo, 13 de outubro de 2013

OS BAILES DE CASA BRANCA por Tia Marilena

E a propósito da Casa Branca.....
Ia-se lá na altura das festas e ia-se ao baile, e dizia o senhor ao microfone alto e em bom som ( não fosse alguém menos atento não ouvir) :
Senhoras e senhores o baile vai começar. Avisam-se todos que estão proibidas todas as mijanceiras e caganceiras à porta desta função, quem não assim proceder será chamado à direcção, mais se avisam que não podem prantar os pés arriba das mesas por môde de não aquebrantar os basaréus de vidro. Comece o baile.
E o baile começava e nós lá bailávamos. Depois, já tardinho, lá íamos para casa da avó Bárbara entre risos em surdina e pchius e argolas de massa finta (que nunca mais comi como aquelas) lá nos deitávamos para descansar os pés….

AS ARGOLAS DA AVÓ BÁRBARA

Agora é só puxar pela memória!!!
Lembram-se das argolas da avó Bárbara???? Eram célebres.
Aí vai a receita:

ARGOLAS DA AVÓ BÁRBARA

1Kg de pão em massa
1/2 kg de açucar
2 tigelas de leite ( agora serão canecas!)
1/4l de azeite (Alentejano de preferência!!!)
1 colher (sopa)Canela em pó 
Raspas da casca de 1 limão
1 colher de chá de bicarbonato
Farinha para amassar e tender
Põe-se o pão em massa num alguidar, juntam-se os ingredientes todos e vai-se amassando com farinha até tender. 
Fazem-se uma torcidas com a massa e faz-se o feitio de argola. Colocam-se no tabuleiro untado de azeite e polvilhado de farinha e vão a cozer no forno.
A avó Bárbara levava as latas com as argolas ao forno de lenha da padaria, onde as argolas eram cozidas. Algum tempo depois, iam-se buscar, lourinhas e tenrinhas.
Quando vinham mornas eram deliciosas!!!. 
Depois, a avó guardava-as dentro de uma grande panela de esmalte, na despensa, iluminada pela luz difusa da clarabóia, junto à cozinha e duravam para toda a semana. 

Quanto mais o tempo passava, melhor ficavam.
Eram comidas ao pequeno-almoço, ao lanche e ao deitar a acompanhar o caldo de farinha que a avó fazia com todo o preceito, para que não tivesse grumos. 
Quando queríamos uma argola, não a íamos buscar à panela.Pedíamos à avó Barbara: "Avó, dê-me uma argola!" e a avó, levantava-se, com toda a calma da cadeira onde estava sentada ao lume ou à camilia e com todo o vagar, dirigia-se para a despensa. Abria a porta da despensa que estava sempre fechada, dirigia-se à panela de esmalte, tirava a tampa, e dava-nos uma ( 1! ) argola! Nós tínhamos que comê-la com todo o cuidado, para não deixarmos cair migalhas, nem no chão nem no tampo da camilia." Não me sujem o chão com migalhas!!! comam devagar!!! mastiguem bem!!" e a avó continuava: "O meu pai que Deus tem, comia sempre muito devagar, até o leite mastigava!!!" e nós crianças achávamos aquilo muito estranho?!! até o leite mastigava??!!
Afinal, nos dias de hoje, em pleno século XXI, é o que os médicos dietistas e nutricionistas recomendam e aconselham - Comer muito devagar e mastigar bem...! Como a avó Bárbara diria:
" O meu pai foi sempre uma pessoa muito culta e muito inteligente! Lia muito e depois seguia os conselhos que tirava dos livros!!" Assim era o nosso bisavô João Falcato!!!
Luzazul

OS ACAMPAMENTOS DO MOUCHÃO pela Guida

Teria eu 4, 5, 6 anos quando o meu tio Vitalino organizava uns belos acampamentos no Mouchão, uma herdade perto de Casa Branca, terra de Falcatos. Era muita gente, muitas panelas enormes, umas lonas debaixo das quais se comia e dormia, muita alegria e boa disposição. Aquilo durava vários dias, pelo menos é o que me diz a memória.


Partíamos de casa da minha tia Amélia, em carroças??? ( oh Guida!! íamos na carroçaria da camioneta ou no atrelado do trator!! o meu pai nunca teve mulas para termos carroças!!!) carregadas de tralha e de gente sentada em bancos de buínho. Chegados lá, armava-se a esturgia: começava-se a fazer comida pr'aquela gente toda.
Havia uma ribeira onde alguns tomavam banho, dava-se grandes passeios pelos campos à volta, cantava-se, enfim, era uma festança.
Eu tinha umas tão grandes saudades deste tempo e apetecia-me tanto refazê-lo que combinei com o meu tio Zé Varela (também ele um saudosista destas coisas), escrevemos umas cartas acompanhadas de imagens da época assim à laia de convites e fizemos aquilo que até agora foi a última edição deste acampamento. E resultou! Que o diga quem lá foi. E as fotos atestam isso!!
Agora, com todo este entusiasmo que o blog nos tem dado, bem podíamos aproveitar e, lá pr'a Páscoa ou quando o tempo estiver melhor, fazer uma outra reedição. Quem alinha?Aceitam-se inscrições para a organização.
É que vale mesmo a pena!

O ASSOBIO

O meu tio Zé Varela, que sempre admirei e com quem tive uma relação afectiva muito forte, se não tivesse partido,  estariamos hoje a festejar os seus 80 anos. Assim, como não lhe posso dar o beijo de parabéns que ele me retribuiria  com o seu sorriso aberto, meigo e feliz que sempre mostrava, vou escrever um texto que relata bem as memórias boas e singelas que guardo dele.
Quando eu tinha 11 anos, fui estudar para o Colégio de S. Joaquim em Estremoz (actual Escola 2,3 Sebastião da Gama), e fiquei hospedada na sua casa do Bairro de Santo António (hoje é neste bairro que fica o Supermercado Pingo Doce) , logo a casa ficava num extremo oposto ao colégio. A distância era enorme, e a minha pasta tinha sido mandada fazer ao sr. Contente do Cano, famoso pelas suas carteiras, pastas e afins, em couro verdadeiro e de duração ilimitada. Pesava "toneladas", pois o meu pai pedira  o couro mais durável que ele tivesse!. Não deixavamos os livros na escola, e assim, fazia quatro vezes, o caminho do Barirro de Santo António para a zona do Caldeiro. A pé, chovesse a potes, fizesse um frio de rachar, fizesse vento que tudo levava pelos ares, fizesse o calor abrasador de Estremoz, lá ia eu de pasta na mão cheia de livros, logo pelas 8 horas da manhã, voltava de novo com a pasta ao meio dia para almoçar. Depois de almoçar muito rapidamente, mudava os livros das disciplinas da manhã para as da tarde, e lá ia eu, pasta na mão a caminho do colégio onde ia ter aulas das 14horas até às 18h. Nos dias de Ginástica, hoje Educação Física ainda levava um saco de pano branco mandado fazer de propósito para transportar o uniforme de ginástica (saia calça. blusa de malha interloc branca, meias brancas e sapatilhas de ginástica brancas), por isso, nesse dia, a carga era mais pesada e o cansaço era ainda maior.
O percurso da escola para casa e da casa para a escola era e é muito comprido, a distância era interminável. Atravessávamos o Rossio e lá iamos nós,  eu, a Aurita, a Genhinha e a Luisa, felizes, bem dispostas, sem um queixume sobre a distância que tínhamos que percorrer 4 vezes ao dia!!!
Muito esporadicamente, o Sr Dias, pai da Geninha, que tinha uma loja de tecidos no Largo da República, dava-nos boleia, o que para nós era uma festa e um alívio, pois chegávamos mais depressa e menos cansadas.
A minha pasta era forte e feia. Eu não conseguia de maneira nenhuma ver-me livre dela. Então muitas vezes, mandava a pasta com toda a força, pelo pavimento de cimento do recreio, ela escorregava pelo chão e depois eu ia buscá-la ao outro extremo do pátio. Queria que ela se estragasse para poder ter uma mais leve... mas nunca o consegui!!! a pasta durou anos, e anos, e anos... sempre impecável... os cantos não estavam a desfazer-se, a mola para fechar continuava operacional e a pega da pasta firme, mas firme!!!! e a pasta acompanhou-me sempre, durante o meu percurso escolar do 1º ano do preparatório ao 5º ano do liceu.
À tarde, quando vinha do colégio, e passava no Rossio, encontrava-me muitas vezes, mesmo quase todos os dias, com o meu tio Zé Varela, que saía religiosamente às 18 horas do escritório , onde era escriturário e se dirigia para casa. Íamos juntos de regresso. Ele andava sempre um livro debaixo do braço, pois a leitura era um dos seus melhores passatempos. Tinha uma postura muito elegante, alto, magro, cabelo preto, com o seu fato muito bem tratado, as camisas brancas impecávelmente passadas pela tia Maria Emília, as calças com um vinvo bem marcado. O meu tio interessava-se e queria saber como me tinha corrido o dia, e quando eu começava a falar sobre o meu dia na escola, ele começava a contar-me histórias do seu tempo de menino, de adolescente e naquele tempo (1961) de pai babado com a minha prima Maria Cristina, que era uma bébé adorável, muito bonita, rechonchudinha, risonha e sempre bem disposta.
Por vezes, quando íamos no Rossio, ouvíamos o assobio muito característico e muito pessoal do meu tio Jacinto, que nos tinha visto à distância e que queria juntar-se a nós. Aquele assobio era único. Pareciam rouxinóis a cantar nas árvores. Onde quer que um deles fizesse aquele assobio já sabiam que era um irmão a chamar o outro irmão.
Hoje, 52 anos passados, ainda recordo aquele assobio. Já não o posso ouvir, pois o tio Zé já cá não está e o tio Jacinto já não o pode chamar... mas, o assobio era inesquecível, bonito, harmonioso, alegre, direi mesmo que era uma pequena peça musical; era um assobio de grande cumplicidade, muito, mas mesmo muito pessoal, o que tornava esta forma de se comunicarem única.
Mais não escrevo, mas há tanta coisa a dizer deste querido tio que tanta saudade nos deixou...
Casa Branca, 28 de Setembro de 2011
zuzu

OS MEUS TIOS E TIAS "EMPRESTADOS"

Como todos vocês, meus queridos primos e primas Falcatos, sabem, sempre chamei tio e tia aos vossos pais e mães. Ora, acontece que esse tratamento faz muita confusão a certas pessoas, sobretudo aqui da Casa Branca, e que não conseguem perceber esse elo familiar!!!
Escrevi um post sobre a Tia Natália Simões e depois disso, várias pessoas, depois de lerem o texto, me perguntaram quem é a minha tia Natália??!!! ( essas pessoas sabem que os meus pais não tiveram irmãos chamados Natália, Anibal, Jaime, Adélia, etc.!!) e daí a admiração e confusão!!!
Ontem, recebi mais um mail de uma amiga, onde me perguntava quem era a "tia Natália" pois a mãe dela, estava muito intrigada!!! Assim decidi explicar a essa minha amiga a razão de eu chamar tios e tias aos filhos e filhas da minha tia Domingas e do meu tio Zé Alves. Aqui vai o que eu escrevi:
"Olá Mariana
A minha "tia Natália" do blog é a mulher do meu tio Aníbal, irmã da prima Joaquina e da prima Joana.
Desde sempre os meus pais tiveram uma forte e estreita relação com o meu tio Zé Alves e tia Domingas, íamos lá muitas vezes almoçar, íamos a todas as festas da família, aos casamentos, a todas as ocasiões em que havia " reuinão familiar"lá estávamos nós - eu, o meu irmão e os meus pais!. Assim, eu sempre convivi muito de perto com todos eles, e desde sempre lhes comecei a chamar tios e tias, talvez por influência dos meus primos Aurita, Henrique, Jorge, Zé Manel Simões, José Carlos, etc, etc, que como eram sobrinhos de verdade, lhes chamavam tios/tias. Muitos desses meus primos eram da minha idade ( todos eles estão no meu coração e eu tenho-os como primos muito, muito próximos.). Assim, todos os filhos do meu tio Zé Alves e da Tia Domingas são meus tios e tias por adopção, mas para mim é como se fossem de verdade! Eu adoro-os a todos ( os filhos homens já todos partiram, e deixaram-me muita saudade; agora só estão as tias Olga, Natália, Maria Helena e Adélia) e todos eles sempre gostaram muito de mim.
Infelizmente, com a sua partida, eu tive grandes desgostos.
Mas, o tio Aníbal foi aquele de quem eu tive um maior desgosto pela sua morte, - uns dias antes de ele morrer, atropelado na estrada para Elvas, eu tinha estado com ele no lançamento do seu novo livro. Sempre foi uma pessoa muito dada à vida intelectual e por isso, estavam lá muitos artistas, gente do teatro, agora não me lembro dos nomes, é um que faz telenovelas que tem a cara toda manchada, (Canto e Castro?) outra artista que faz telenovelas e cinema ( Gina Maria?) , escritores, como o Cardoso Pires e outros, políticos, etc.
Como o meu tio Aníbal era muito próximo dos meus tios Maria Helena e Jacinto , quando iam ao cinema, visitar uma romaria ou uma aldeia ou outras manifestações artísticas, eu ia com eles. ( Em casa dos meus tios, eu ouvi, pela primeira vez, o disco do Zeca Afonso, na altura, proibidíssimo, "os Vampiros! ( isto passa-se em 1959!!)".
O meu tio Aníbal transmitiu-me ideias e conhecimentos sobre cinema, literatura, pintura, etc. política, etc… cujas sementes ainda estão em desenvolvimento dentro de mim. Ainda hoje, adoro tudo o que se relacione com arte, com manifestações artísticas, como ver exposições, ir a concertos, olhar uma paisagem (real) do Alentejo, apreciar a boa gastronomia portuguesa, etc. etc. tudo graças ao convívio estreito que sempre tive com ele e com a minha tia Natália.
Quando fui estudar para Estremoz, tinha 11 anos ( 1959), acabados de fazer, era uma frequentadora da Livraria Aníbal. Como sempre adorei ler, quando saía um livro de um grande escritor estrangeiro ou português, que se adequasse à minha idade, o meu tio Aníbal dizia-me logo para eu o ler. "Eu tinha uma conta aberta lá, e aos fins de semana o meu pai ia lá pagar!" como vês tudo isto me tornou na pessoa que hoje sou... afinal é através do exemplo daqueles que nos rodeiam, que nós crescemos, nos educamos e nos tornamos "parecidos" com quem convivemos... Bem, que grande discurso!!! às vezes sabe-me bem, falar e escrever sobre aqueles que "moldaram" a minha personalidade, que contribuíram para a pessoa que sou hoje...
Beijos à tua mãe.
Beijos da amiga Zuzu
2008/9/18 

Pois é, meus queridos primos e primas, é por tudo isto e muito mais ( que um dia escreverei!) que eu vos adoro a todos e todas. Agora, por acréscimo, adoro os vossos filhos e vossas filhas, e fico muitooooooooo contente quando sei que uma delas está grávida, e que vai nascer mais uma Falcatinha!!!