"A vida é a arte do encontro. Embora haja tanto desencontro pela vida." Vinícius de Morais
Boa noite a todos.
Muito obrigada por estarem aqui connosco e por terem resistido à tentação de ficar em casa, no quentinho da braseira; sei que não deve ter sido nada fácil, mas eu espero ( não quero prometer nada!!!) que todos nós que aqui estamos, vamos ficar muito satisfeitos connosco próprios, por termos enfrentado o frio e a chuva nesta noite deste Inverno tão agreste!!
Há já algum tempo que sabia que a Risoleta andava a escrever um livro, cuja trama e acção teria uma relação directa com o Tarot. E porque sabia eu isso? Perguntarão vocês?
- Porque eu considero a Risoleta a minha melhor amiga e entre mim e ela, sempre houve e haverá uma troca constante de cumplicidade do que andamos a fazer, dos nossos projectos quer a nível pessoal, quer profissional. Falamos de viagens, encontros, leituras, cinema, as vivências com os nossos filhos, os nossos pais e dos amigos comuns… partilhamos também anseios, medos, alegrias e a nossa grande vontade de mudança, para encontrar a harmonia e a tranquilidade por que todos ansiamos.
Quando nos encontrávamos ou falávamos por telefone, ela mostrava-me como andava empenhada neste projecto, pois tal como neste, todos os projectos em que a Risoleta se evolve exigem muita pesquisa, procura e conhecimento.
Nas minhas pesquisas encontrei que:
O Tarot é um baralho de 78 cartas, dividido em dois grupos arcanos maiores e arcanos menores, o primeiro possui 22 cartas e o segundo grupo possui 56 cartas. Estas cartas servem para adivinhação e a meditação. É um dos métodos de análise de vida, de orientação e desenvolvimento pessoal.
A verdadeira origem do tarot está envolta em mistério, os relatos mais antigos referem-se ao Antigo Egipto, onde foram descobertas 22 lâminas de ouro com símbolos dos Arcanos Maiores, que são a fonte de inspiração da Risoleta para a elaboração deste livro.
Muito se tem discutido sobre a origem do tarot, os mais antigos documentos e cartas de tarot de que se tem notícia são de origem italiana e francesa, que datam dos séculos XV e XVI. Durante a Inquisição muitos baralhos foram queimados pela Igreja, pois eram considerados como um caminho de pecado, de ocultismo, relacionado com adivinhações e bruxarias. No entanto, alguns sobreviveram para hoje sabermos um pouco mais sobre esta arte de adivinhação.
O baralho de Marselha continua a ser o mais utilizado pois é o que mais se assemelha ao tarot original. Hoje, existem vários tipos de tarot, que podem ser classificados em clássicos ou modernos. O Clássico possui símbolos tradicionais, fiéis aos padrões originais. Os modernos contêm desenhos variados e alguns símbolos novos, os quais surgiram no passado século XX.
O tarot dá a quem o procura uma resposta seja para problemas materiais ou espirituais, mostrando um caminho ao consulente. É necessário saber lê-lo com sabedoria e com intuição, pois sem esta, é difícil saber interpretá-lo e sobretudo tentar analisar cada carta em todos os seus aspectos, para assim se chegar a uma resposta plausível para a dúvida questionada.
Quando a Risoleta me enviou o livro e comecei a lê-lo, logo o primeiro efeito de estranheza que me surgiu, foi o nome de Aleph, personagem principal do livro. Como se refere na página 19 “ Aleph era uma referência fundamental, a idiossincrasia da família, aquele que fazia a diferença, o selo, uma espécie de brasão vivo. Era um símbolo. Porque depois do seu nascimento nenhum dos que privaram com ele ficou igual.”
Perguntei-lhe: “Risoleta onde foste buscar este nome?” e ela na sua maneira simples de explicar as coisas ( eu sentia que ela sorria, do outro lado da linha ) disse-me:
“ Aleph é a primeira letra do alfabeto hebraico!”
Quando soube que seria eu a fazer a apresentação deste livro, senti que precisava saber um pouco mais sobre isso. Então comecei a pesquisar ( e a aprender!)
O alfabeto hebraico é constituído por 22 letras, tal como o número de cartas do arcanos maiores do tarot. No hebraico as letras também são números; no idioma hebraico há três letras-mães que são Aleph, Mem e Schin. O ponto de partida de toda a Cabala é o alfabeto. Essas 22 letras não são colocadas ao acaso; cada uma delas corresponde de acordo com a sua classificação a um número, a um hieróglifo, segundo a sua forma e a um símbolo segundo a sua relação com as outras letras do alfabeto.
Então, Aleph é a primeira das letras-mães do alfabeto hebraico. Como cada letra é uma potência, esta (Aleph) está ligada mais ou menos intimamente às forças criadoras do Universo. Essas forças evoluem em três mundos: físico, astral e psíquico. Combinar palavras hebraicas é, então, agir sobre o próprio Universo, daí o uso de nomes hebraicos em muitas cerimónias mágicas. Os antigos rabinos, os filósofos e os cabalistas explicavam a ordem, a harmonia e as influências dos céus sobre o Mundo, com as 22 letras do alfabeto místico dos hebreus: da letra Aleph até à letra IOD, situa-se o mundo invisível ou angélico, as inteligências soberanas que recebem as influências da primeira luz eterna que emana do Pai.
Aleph é o primeiro som que o ser humano articula. Aleph exprime a ideia da unidade e do princípio, designa a causa, a força, a actividade, o poder, a estabilidade e o Homem como unidade colectiva.
Aleph significa “sou o que sou” – é a essência invisível de todos os seres, pois Deus criou todas as coisas com número, medida e peso. Como já referi anteriormente, Aleph corresponde ao número um ( nº 1 ), e cada número do alfabeto, contém um mistério e um atributo que se refere à Divindade ou a alguma inteligência. Tudo o que existe na Natureza forma uma Unidade pelo encadeamento de causas e efeitos, que se multiplicam até ao Infinito.
Nas páginas 161 e 162 de O Sol do Tarot de Sintra encontramos referências à cabala: “ Mas desta vez os sábios e as práticas da Cabala servir-lhes-iam de … tendo esse santo saber só de alguns, o conhecimento oculto. E mais uma vez a Cabala não foi banalizada, o saber não foi profanado, mas colocado ao serviço do Esplendor e da Árvore da Vida. (…) Carminho foi encontrando em casa alguns signos que não compreendeu, mas que conservou. “
Saindo da explicação destes temas tão apaixonantes e que espero que levem alguns de nós a um estudo mais aprofundado, volto a falar da autora do livro.
Conheço a Risoleta há mais de 20 anos, quando ela foi a minha orientadora de estágio, na disciplina de português, na Escola D. Maria I, em Lisboa.
Éramos 3 estagiárias. Na 1ª reunião, a Risoleta marcou-nos encontro na casa onde morava naquela época, na Rua Palmira, aos Anjos. Fui sozinha, pois as minhas colegas iriam lá ter. Encontrei um prédio, muito interessante e curioso. Entrava-se por uma pequena cancela de ferro, que quase sempre estava aberta, mas naquele dia estava encostada!, e que dava acesso a um pequeno pátio. Subia-se uma escada de 4 ou 5 degraus que dava acesso à porta principal do prédio. Toquei à campainha. A porta abriu-se e eu subi as escadas até ao 1º ou 2º andar direito, onde ficava a casa da Risoleta. À porta, estava uma jovem mulher, com um sorriso doce e calmo, muito risonha, com o cabelo pintado de um vermelho alaranjado, com caracóis naturais apanhados, ao acaso, com um gancho, vestida com uma roupa alegre e descontraída, de um modo muito peculiar, (como só a Risoleta veste!), convidando-me a entrar. Demos um beijo de boas vindas e apresentámo-nos uma à outra.
O prédio onde ela morava, fora construído no princípio do século XX, o qual tinha resistido “heroicamente” ao tremor de terra de 1969. Nas paredes exteriores viam-se rachas enormes a lembrarem esse acidente. A entrada dava para dois corredores, em esquadro, um ia em frente, outro para a direita. Este era o corredor mais comprido, de soalho, de tábuas compridas e enceradas, que tinha a particularidade de ter o pavimento inclinado para a esquerda… quando caminhávamos, sentíamos que havia um desnível e que a perna do lado esquerdo ficava mais baixa… a Risoleta achava isso muito natural!!
Quando eu lhe perguntava: “ Será que não vou escorregar aqui?!, ela respondia-me com toda a calma e tranquilidade: “ Não, não tenhas medo que não vais escorregar, está assim desde o tremor de terra!”. Ao fundo desse corredor, estava a cozinha e uma marquise, onde numa mesinha havia tintas de aguarela e acrílicas, pois na altura a Risoleta dedicava-se à pintura…
Sempre achei aquela casa labiríntica. As divisões estavam ligadas umas às outras por portas, tapadas com cortinas de panos indianos ou de renda, colocadas ao acaso, com estiradores. A decoração era simples, mas muito, muito pessoal… livros, muitos livros, alguns objectos pessoais e alguns quadros nas paredes completavam a decoração; era muito acolhedora a casa da Rua Palmira!!! Como as divisões estavam interligadas, nunca sabíamos se estávamos a entrar na sala, se no quarto do Bruno ou no quarto da Rita, se na sala do piano… a casa tinha alma e tinha uma característica muito própria… respirava-se a mesma calma e tranquilidade que a dona da casa nos transmitia…
Foi a partir desse dia que ficámos amigas… eu até me atreveria a dizer… irmãs!!
E como duas amigas/irmãs, desde há 20 anos até hoje, partilhamos alegrias, tristezas, angústias, novidades, muito amor fraterno…
Como eu fiquei contente quando em 1996, o seu primeiro livro de ficção “ A criança suspensa” com o qual tinha concorrido ao Prémio Ferreira de Castro da Câmara de Sintra, ganhou o 1º prémio!!! Fiz questão de estar presente no evento; a minha querida amiga ia receber o seu prémio literário, mais que merecido!!
Ainda hoje, procuro estar presente, sempre que me é possível, e felizmente tenho assistido a quase todos os lançamentos dos livros que a Risoleta tem escrito, assim como tenho estado presente noutros projectos em que ela tem participado, nos concertos do coro do nosso querido amigo Maestro Paulo Brandão, nos ateliers de escrita criativa na casa Fundação Agostinho da Silva, nas várias conferências sobre vários autores e sobre os mais variados temas, que tem dado nos mais diversos espaços culturais de Lisboa, e como eu ouvia religiosamente, todas as quartas-feiras de manhã, as suas crónicas, na RTP2, como eu assisti deslumbrada aos espectáculos da Amálgama, no Convento de S. Paulo, na Serra d’Ossa, assim como fiquei maravilhada quando assisti à cantata O Achamento do Brasil , cuja sinopse é a seguinte:
Esta banda desenhada é inspirada na ópera O Achamento do Brasil encomendada pela Foco Musical ao compositor Jorge Salgueiro. Além da narração deste acontecimento histórico, aborda-se alguma da terminologia do mundo operático e apresentam-se os instrumentos musicais presentes na partitura. Este trabalho é essencialmente um estímulo e um complemento para a audição desta obra, escrita como um meio de sensibilização a este género musical, daí a inclusão do respectivo CD.” www. WooK.pt, onde participavam e colaboravam crianças, muitas e muitas crianças das escolas de Lisboa…
Não vi a cantata o Conquistador, mas de qualquer modo deixo aqui a sinopse que vem no mesmo site: A Cantata O Conquistador é baseada na biografia de D. Afonso Henriques e suas peripécias, nas suas desavenças com a sua mãe (D. Teresa), no seu aio fiel (Egas Moniz) e nas suas mulheres (a legítima D. Mafalda e... as outras). Esta cantata poderia contar uma encantadora história de ficção mas, por "coincidência", apresenta-nos de uma forma bem disposta e acessível a todas as idades a história da fundação de Portugal. Contada (e cantada) por 4 cantores e uma orquestra sinfónica, é mais um dos entusiasmantes Concertos Interactivos da Orquestra Didáctica da Foco Musical onde a plateia desempenhará um papel interventivo imprescindível.”
Muitas vezes, manda-me um capítulo ou parte de um projecto para que eu o leia e lhe dê a minha opinião … a minha opinião é sempre tão positiva, que por vezes penso que não a estou a ajudar, pois talvez ela quisesse ouvir uma opinião mais critica, mais mordaz!
Mas é essa a minha opinião! Ler os textos da Risoleta é para mim um prazer muito grande; a sua forma delicada de expor os assuntos complicados e desagradáveis, de usar a palavra certa no momento certo, de juntar o real com o imaginário, de misturar e usar a mitologia, a alquimia, o esoterismo com sageza, delicadeza e uma quase “ternura”, deixa-me presa ao texto, sem querer parar de o ler. Às vezes, os textos falam da realidade cruel, da maldade do Homem e deixam-me um sentimento amargo, de tristeza e ansiedade, por ver como ela está atenta a tudo isso… apesar do seu sorriso doce…
Ler um livro da Risoleta é entrar num espaço celestial, calmo e tranquilo, onde até o feio, o cruel, o mau, o agressivo, o injusto são ali, quase toleráveis.
A simbologia está presente nos seus escritos e encanta-me perceber o simbólico no texto … até nisso ela me contagiou!!! As frases curtas, a palavra certa no contexto, o sentido metafórico das palavras, a delicadeza de sentimentos, as descrições das personagens e dos locais enriquecem-me e prendem-me tanto a mim como aos seus leitores...
E hoje, estamos aqui para falar do seu último livro O Sol do Tarot de Sintra. Para preparar esta apresentação, mais uma vez, sem ela se aperceber disso, ela foi a minha mestra, a mestra que me tem guiado, ensinado e levado a olhar e a ver com outros olhos ( os dos sentidos, os olhos da alma ) o mundo e as pessoas.
Sem ela perceber ( nunca ela pensou como eu andei empenhada neste projecto!!!) ela tirou-me do marasmo em que tenho andado para pesquisar sobre a origem do Tarot, sobre o que é o Tarot, sobre o alfabeto hebraico e a Cabala; li o conto Aleph de Jorge Luís Borges e reli histórias e lendas da mitologia que me encantaram.
Fui à Net, ver o que se dizia sobre o O Sol do Tarot de Sintra e no site que referi anteriormente, encontrei este pequeno texto (sinopse) que não resisto a colocá-lo aqui, pois dá-nos uma pequena ideia do livro que vos estou a apresentar: Ao todo são vinte e duas as personagens, tantas quantos os arcanos maiores, todos desempenham um papel arquetípico neste pequeno teatro familiar que se desenrola em parte na casa de uma quinta, na Serra de Sintra, onde as flores são de plástico, o boi é o hierofante, ( do dicionário: aquele que explica os mistérios aos neófitos, e é também o sacerdote que preside aos mistérios de Eleusis, na Grécia ) e o quotidiano pode ir do mais extraordinário ao mais banal, como a passagem dos ciclistas, uma ópera, um casamento, uma peça de teatro, uma investigação, uma morte, uma gravidez, a vida, o eterno teatro.”
Acabo esta minha intervenção com as palavras da taróloga Susana Neves:
“Se o Homem vive dentro dos limites que a vida lhe impõe, então, com certeza, respeitará o limite do destino, vivendo de modo mais feliz para cumprir o seu Caminho. O Tarot, por sua vez complementa essa necessidade; prevê, encaminha, sugere e protege. Tal como um Mestre pode-nos aconselhar.”
Muito obrigada pela vossa paciência por me ter escutado.
Zuzu
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