sábado, 21 de junho de 2014

O EXAME DA 4ª CLASSE

Maria Zulmira, Maria Augusta Anica, Elisabete Borralho

O EXAME DA 4º CLASSE

Quando chegava o mês de Junho, era a época dos exames. Os meninos e meninas que frequentavam a 4ª classe, tinham que se deslocar à escola de Sousel, para fazerem o exame. Era uma coisa de grande responsabilidade. Muitos poucos de nós tínhamos saído aqui da aldeia, por isso, ir fazer exame a Sousel, era um acontecimento. Espaço e professores desconhecidos, que nos impunham muito receio e respeito. Nem para os professores nós tínhamos coragem de olhar!! A timidez era enorme.
Deslocávamo-nos como podíamos, mas a maior parte ia no carro do Sr. Zé Delfino. Vestíamos os nossos melhores vestidos  de verão, sandálias de couro feitas nos sapateiros da aldeia, e lá íamos nós, de manhã muito cedo. A prova escrita era da parte da manhã, e da parte da tarde a prova oral. Uma sala enorme, com carteiras afastadas umas das outras, onde nos sentávamos dois a dois. Era expressamente proibido olhar para a prova do companheiro. As professoras cirandavam pela sala, com um ar de   grande solenidade e de grande tensão.
Fazia sempre muito calor. As mãos suadas, deixavam escorregar a caneta de tinta permanente ou a caneta de aparo, que era molhada no tinteiro da carteira. As mãos escorriam água, então tínhamos uma folha de papel branco , dobrada, que púnhamos debaixo da mão, e que ia acompanhando a progressão da escrita. Alguns, mais nervosos, deixavam cair um borrão de tinta em cima da prova, o que desfeava a mesma. Começavam a chorar, por lhes ter acontecido aquilo que mais temiam. Tanto que a professora recomendou que pusessem pouca tinta no aparo, para que não houvesse borrões!!!
Não me lembro onde almoçávamos, mas lembro-me de no fim do dia comer um gelado no quiosque do jardim.
Depois das provas realizadas, chegávamos a Casa Branca por volta das 4 ou 5 horas da tarde. O grupo dos alunos e das alunas que fizeram exame  começava a percorrer as ruas da aldeia e a  a cantar  esta cantiga
Bate palmas, bate palmas
Amor aperta-me a mão
Tenho a sina de ser tua (bis)
Mas por hora ainda não (bis)

Bate palmas, bate palmas  (bis)
Amor aperta-me a mão   (bis)
Viva a Srª D. Amélia
Que nos deu educação

Parávamos em casa de cada companheira, onde na casa de entrada estava a mesa posta, com pratos de bolos e licores muito coloridos, verde, azul, vermelho, que nós bebíamos em copinhos pequeninos.  Depois continuávamos a volta à aldeia e entrávamos em casa doutra colega, e assim, íamos a casa de todas as companheiras, sempre cantando a cantiga “ Bate palmas...”
Para a maioria das minhas colegas, o fazer exame da 4ª classe, implicava que começariam a ter uma vida completamente diferente da que tiveram até ali. Ou iam trabalhar no campo, ou tomar conta dos irmãos mais novos, ou ir “servir” para casa de pessoas que tinham criadas.  No universo de 40 a 50 alunos, éramos 10 ou 12 ( entre rapazes e raparigas) que se preparavam ( com explicações particulares ) para fazer o exame de admissão aos liceus afim de  prosseguirem os estudos nas grandes cidades.





1 comentário:

mariana teles alface disse...

É verdade Zuzu.
também faziamos lavores, que já tinhamos começado nas aulas da Escola. O meu irmão Z´r António levou um"porquinho" de cortiça ", mas estava tãi giro que ficou lá na Escola de Sousel. ficamos todos com pena...